sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Moinho

Ela esperou todos os dias, os feios, os frios, os de primavera. Resistiu resignadamente àquela desilusão cortante, até que um dia, quando sentar na varanda não era nada além de um hábito, os galopes foram ouvidos a quilômetros.
O rebento que trazia junto a si rodou como roda o mundo, as cirandas de fatos, que um dia são, no outro não mais.
Ela demorou tanto para esboçar alguma reação, que deu medo da estória não acabar bem.
Não como nos contos de fadas, com todo o abatimento da sua religiosa espera, desceu as escadas de madeira, seus passos eram céticos. Olhou aquele céu nublado e não conseguiu selecionar nenhuma daquelas palavras que pairavam sobre sua cabeça.
A essa altura, o homem, muito mudado, apresentava uma densa barba negra, já estava aos pés da escada. Abraçou-o apesar do suor, apesar do abandono, apesar dos sonhos renunciados, apesar de, amou.
Primeiro choveu muito, depois os tempos que se seguiram foram mais fulgurosos, em todas as mesas pão, frutas em todo quintal, desejos semeando o real.

2 comentários:

Gabriel Zocrato disse...

Eu quero uma casa no vilarejo.
As suas metáforas são tão puras que parecem naturais e, ao mesmo tempo, originais como que recém-paridas.
Mas o que me impressiona é a transparência dessas máscaras.

Carolina Arantes disse...

as máscaras são quase transparentes... hahaha