sábado, 30 de agosto de 2008

Tortuosas linhas certas

Tudo que fosse dito ali pioraria a situação ou ficaria feio para quem o fez. Então, decide não dizer, descer calada, bater a porta com cuidado. O automóvel partiu sem cerimônia, fazendo pouco caso do meu ressentimento. A omissão de um só fato nos instantes que antecederam aquele momento inerte, onde os pés encontravam-se tortos de um jeito triste, poderia ter sido algo grave, já que não era a primeira vez que coisas como esta aconteciam.
Não fosse todo o sentimento acumulado tempos antes e agora muito bem firmado, não sei viu. Passado o furor do momento, refleti sobre aquele céu conformista, sobre seus motivos confusamente sabidos e pensei que seria inútil a minha incansável busca por mudança. Será diferente quando certa autonomia geral finalmente for conquistada.
Não tenho essa certeza toda mas dizem que estas afirmações são boas.
Existe uma torcida pelo melhor, o melhor que possa vir para o nós. Acredito, que em certo momento um e outro se fundam num nós, sem que deixem de ser plurais, onde uma parte não quer ser sem a outra. Numerais importam sim, mas não consigo dar muita atenção a eles nessa hora, preciso de ajuda. E com números não posso ser autodidata o que, nessa situação e aspecto, me conforta . Mesmo que para virar tudo, pretendo escolher as armas mais bonitas sempre, acredite.
A metalinguagem transborda.
Estou como nunca 'mais pequena' e, com muita alegria, me sinto um pouco cheia de graça.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fê,

Quero que você saiba que aquele dia que você não apareceu na minha apresentação de ballet eu senti que faltava um tom naquelas palmas. Mesmo com a galera que foi lá, não é o todo sem você. Confesso, até tive uma raivinha leve, mas eu sabia que você tinha pensando em mim e sabia também que você não ligaria. Você é muito sensata, não abre a boca quando não tem nada a dizer ou quando as palavras são brutas. Eu sei que isso faz muito tempo mas fazer o que...fui lembrar disso agora.
Hoje em dia, com nossa distância, vejo mais de você e das meninas em mim do que qualquer outra coisa.
Estou precisando de você. Vem me ver, fica uma semana, um mês, uma hora que seja, mas vem por favor.
Quero que você conheça minha casa, quero que você conheça a pastelaria da esquinha que vende uma pamonha que você não acredita. Lembra da ferinha? A gente comia pamonha lá quase toda semana!
Tô bem feliz no trabalho, me realizando e juntando dinheiro pra fazer aquela viagem pra Itália com o Eduardo que eu sonho desde o Científico!
O Edu tá ótimo, fantástico como sempre. Ele tá querendo mais gente nessa casa, minha filha! Mas eu quero fazer a viagem primeiro, aproveitar bastante nós dois.
Você já sabe o que vão arrumar pros 30 anos do Chicão? Se você quiser ajuda com idéias... só me falar a data que eu tô aí, viu?
Ô minha amiga, aquele cd do Pink Floyd tá te esperando chegar pra gente ouvir e beber caipifruta até de manhã que nem da outra vez!
Vem me ver e vê se carrega aquelas duas marmotas pra cá também! Poxa, tô morrendo de saudade!
Te amo
Lúcia

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ana querida dos meus dias,
A sua saudade chega a me cortar.
Aqui o cotidiano é pálido e subnutrido, os quartos são apertados e úmidos, o trabalho árduo. Não tenho mais fome, tenho rezado de sol a sol para que Ele não me deixe cair de cama em desencanto, eu Ana, estou perdendo as forças.
Te vejo a todo instante, rogo à Nossa Senhora que te guarde pra mim e guarde também o seu amor por mim.
Escrever para você aqui é difícil e tenso, eles não dão trégua, mas graças à Deus frei Juvenil tem compaixão de nós e tem lhe enviado minhas cartas.
Lembro daquelas tardes no campo, dos poemas que lia para mim, dos seus longos cabelos negros e seu cheiro de erva doce.
Me espere minha delicada Ana,
Te beijo,
Antônio Augusto D´ávila