segunda-feira, 26 de março de 2012

Retardo

Medo é que o tempo passe de maneira que eu não acompanhe,
A galopes ferrados
Medo é insistir na cisma, vontade maior de crer
Maldita criação de fadas
Malditos sonhos de hotel
Medo é abdicar de mim
Ter que devolver os anos
Ter que devolver o zelo
A mesma luz que faz ver o íntimo dos poros,
Cega em breu
Não quero cantar um hino torto
E me trancar em afirmações
Não quero ser déspota de corpo .

sexta-feira, 9 de março de 2012

Trinta

A noite era sépia nas luzes amareladas - a tarde também tinha repetido a paisagem. A desorganização de folhas secas, pequenas frutas roxas pisadas, galhos que faziam barulho no vento - era como contemplar seu próprio caos. A medida que a noite engolia cada espaço, cada vez mais furiosa, ela foi ficando fosca.
Sentia o perigo do lugar ermo, mas era maior nas engasgadas do músculo. As palavras marchavam em círculos, num combate sangrento, até que uma acabava por calar outra.
Sentia um vendaval sem fim- as folhas paradas- era quando separavam os rostos, depois daquele instante que não existe, é uma lacuna no tempo, flutua.
Ora parece uma bagunça de quarto, nenhum espaço no chão pra pisar, nada tem forma definida, nada se encontra. Ora é tarde fria que varre o sol pra baixo e acende a lua, cheiro de dama da noite. É a dor que não lateja, o cuidado sem circunstância, um amor que pede pra ver adiante, em conta-gotas.