terça-feira, 27 de setembro de 2011

Contrapartida

Sinto esse mundo que inflama dentro. Como eu posso dizer? Acaba que não é isso, sabe? Não quero que você se sinta preso (não quero? Não. Seria interessante você querer estar aqui, simplesmente. Mas ele não está aqui? Pronto). Você tem um mundo pela frente e a estrada até Paraty. Olha, eu não sei falar sobre isso. O que eu quero dizer é que eu sempre fui mais pra mono. Não ria. É sério. Ah,eu (você sempre criando problemas que não existem. Nessa ânsia por destrinchar e apreender o âmago das coisas! É que elas não são retas). Você fica olhando pra mim com esses olhos de quem é muito receptivo mas não tá a fim de dizer nada porque qualquer coisa acaba sendo um monte de bifurcações e novos sentidos e novas perguntas que você nunca enxergou (você não tinha parado de tentar analisar todos os movimentos faciais? Que neurose. Sério, você precisa de tratamento. As coisas são simples, são rugosas, acidentadas e montanhosas, mas são o que são, estão à mostra. E às vezes são dúvida, apenas. Também é ser). A gente não consegue, né? Tá bom? Então. É a falta de problema que te aflige? Ah, não aflige. Imagina. É, você parece pacífica. (é engraçado. Toda essa coisa sistemática, tipo séria, e a gente rindo muito. Eu curto um sarcasmo). Depois a gente alonga. Sério, eu fico feliz com isso. Aquela hora queria ter te perguntado o que você quis dizer com aquilo. Aquilo,ué. É que às vezes é só isso mesmo, fim. Eu gosto de olhar pela janela. Foi bom o que você fez por trás. É,eu fico rindo. Eu sou meio imbecil. Nessas tardes o tempo é tão fluido. Não ter ido embora de manhã foi bom. Jamais pego táxi daqui de novo. Vamos comer? Isso é novo. Eu não lembro de ontem. Perdi meu isqueiro, óbvio. Estou falindo. Você vai? Desce na segunda rua depois da praça. Já comprei. Mas voltando... acho bonito esse jeito que você leva. Sinto muito você ter sofrido por ela e por ela. Confuso, sem dúvida. A verdade é que estou fugindo disso. Agora tem que ser tranquilo. Essa coisa do sempre, sei lá, acho que ainda acredito. Não tá acontecendo. Acho que sim, o sexo é cúmplice. É, na certa não perde nada. Isso já é ganhar,ô. Eu acho que todo mundo que gosta do que faz falaria por horas. Interessante isso. É que me faz pensar, me sinto diferente, saudável, mudo. Nossa, não acredito que ele falou isso. Não vou comentar da invalidez desse argumento. Me tranqüiliza de certa forma, sim. Não teve graça. Não, sim. (dificuldade com respostas diretas?). Isso eu não sei levar. É, confesso. Estou. Mas não é sério, entende? Não que não seja. É, você falou o que eu tinha pensado. Essa coisa de ser especial, de achar que fosse. Talvez, ou não. É tranquilo. Poderia.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

8 de Setembro

“Apenas seguir em frente. Primeiro, porque nenhum amor deve ser mendigado. Segundo, porque todo amor deve ser recíproco.”
C.F.A


E o ar-feitiço de Setembro não vingou. Acordou da renúncia e antes que pudesse pensar, a pergunta fez saltar todos os outros passos impessoais da última semana. Já tinha aberto a mala para começar a juntar aquele sopro verde. A angústia daquela pergunta a colocou de pé - incrível como essas desgraças são um motor, é assim que tem vivido.
Pegou o ônibus e tudo mecânico. Chegou às amoras sem perceber, naufragou no suco do almoço. Acabou traindo a sua confiança de novo, não foi. Pode ser o inferno astral, pensou. É que parecia tão tranquilo...sentiu medo, medo de ser seu exagero, trauma, neurose.
Acabou tomando o comprimido de duas vias. Sentia-se estranha, fisicamente estranha, como se alguma coisa gelada dançasse pelo seu esôfago. Lembrou-se que seu único desejo era ter as coisas límpidas. E não era muito.
Ficou grata por ter recuperado a lucidez perdida nas últimas horas - não lucidez, sei lá, seu eixo. Não queria mais se desviar, queria ter coragem de viver, mas aquela dúvida era petrificante para ela, não entendia porque era assim, tão ansiosa, controladora. Incapaz de fluidez.
Viu os trilhos do alto e não pensou em nada ou pensou em tantas coisas sem foco. Percebeu - e era tarde - que gostava do braço para trás, do vapor alcoólico que exalava, da testa franzida, do toque de suas bocas. Isso fez com que perdesse as referências - e os trilhos pareceram mais próximos. Melancólica, atinou para o tempo, a primavera já rondava a porta e tudo ficaria bem.

“Que setembro venha com bons ventos, que me traga sorte e amor, que não me deixe sofrer, por favor."
C.F.A