domingo, 25 de dezembro de 2011

Lavagem

O coração tem batido num compasso novo, estranho. Um acelerado contido,contraído,esguio. Minha cara estável, olheiras mortas. Estou inadimplente na vida. Como se tornar legível. Essa cidade tem muito pernilongo ou meu sangue de brinquedo. Às vezes talha. Às vezes falha a vontade. A coragem. A verdade, quase 21 anos. Perdi a hora: do comercial, de voltar pro teatro, de conhecer Bariloche. Perdi Banquete e embriaguez. Expirei. Me achei meio triste no vestido preto, eu pálida. Nunca tive essas coisas na pele. Pessoas meio conhecidas, lugares meio frequentados, eu meio cheia de mim.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Contrapartida

Sinto esse mundo que inflama dentro. Como eu posso dizer? Acaba que não é isso, sabe? Não quero que você se sinta preso (não quero? Não. Seria interessante você querer estar aqui, simplesmente. Mas ele não está aqui? Pronto). Você tem um mundo pela frente e a estrada até Paraty. Olha, eu não sei falar sobre isso. O que eu quero dizer é que eu sempre fui mais pra mono. Não ria. É sério. Ah,eu (você sempre criando problemas que não existem. Nessa ânsia por destrinchar e apreender o âmago das coisas! É que elas não são retas). Você fica olhando pra mim com esses olhos de quem é muito receptivo mas não tá a fim de dizer nada porque qualquer coisa acaba sendo um monte de bifurcações e novos sentidos e novas perguntas que você nunca enxergou (você não tinha parado de tentar analisar todos os movimentos faciais? Que neurose. Sério, você precisa de tratamento. As coisas são simples, são rugosas, acidentadas e montanhosas, mas são o que são, estão à mostra. E às vezes são dúvida, apenas. Também é ser). A gente não consegue, né? Tá bom? Então. É a falta de problema que te aflige? Ah, não aflige. Imagina. É, você parece pacífica. (é engraçado. Toda essa coisa sistemática, tipo séria, e a gente rindo muito. Eu curto um sarcasmo). Depois a gente alonga. Sério, eu fico feliz com isso. Aquela hora queria ter te perguntado o que você quis dizer com aquilo. Aquilo,ué. É que às vezes é só isso mesmo, fim. Eu gosto de olhar pela janela. Foi bom o que você fez por trás. É,eu fico rindo. Eu sou meio imbecil. Nessas tardes o tempo é tão fluido. Não ter ido embora de manhã foi bom. Jamais pego táxi daqui de novo. Vamos comer? Isso é novo. Eu não lembro de ontem. Perdi meu isqueiro, óbvio. Estou falindo. Você vai? Desce na segunda rua depois da praça. Já comprei. Mas voltando... acho bonito esse jeito que você leva. Sinto muito você ter sofrido por ela e por ela. Confuso, sem dúvida. A verdade é que estou fugindo disso. Agora tem que ser tranquilo. Essa coisa do sempre, sei lá, acho que ainda acredito. Não tá acontecendo. Acho que sim, o sexo é cúmplice. É, na certa não perde nada. Isso já é ganhar,ô. Eu acho que todo mundo que gosta do que faz falaria por horas. Interessante isso. É que me faz pensar, me sinto diferente, saudável, mudo. Nossa, não acredito que ele falou isso. Não vou comentar da invalidez desse argumento. Me tranqüiliza de certa forma, sim. Não teve graça. Não, sim. (dificuldade com respostas diretas?). Isso eu não sei levar. É, confesso. Estou. Mas não é sério, entende? Não que não seja. É, você falou o que eu tinha pensado. Essa coisa de ser especial, de achar que fosse. Talvez, ou não. É tranquilo. Poderia.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

8 de Setembro

“Apenas seguir em frente. Primeiro, porque nenhum amor deve ser mendigado. Segundo, porque todo amor deve ser recíproco.”
C.F.A


E o ar-feitiço de Setembro não vingou. Acordou da renúncia e antes que pudesse pensar, a pergunta fez saltar todos os outros passos impessoais da última semana. Já tinha aberto a mala para começar a juntar aquele sopro verde. A angústia daquela pergunta a colocou de pé - incrível como essas desgraças são um motor, é assim que tem vivido.
Pegou o ônibus e tudo mecânico. Chegou às amoras sem perceber, naufragou no suco do almoço. Acabou traindo a sua confiança de novo, não foi. Pode ser o inferno astral, pensou. É que parecia tão tranquilo...sentiu medo, medo de ser seu exagero, trauma, neurose.
Acabou tomando o comprimido de duas vias. Sentia-se estranha, fisicamente estranha, como se alguma coisa gelada dançasse pelo seu esôfago. Lembrou-se que seu único desejo era ter as coisas límpidas. E não era muito.
Ficou grata por ter recuperado a lucidez perdida nas últimas horas - não lucidez, sei lá, seu eixo. Não queria mais se desviar, queria ter coragem de viver, mas aquela dúvida era petrificante para ela, não entendia porque era assim, tão ansiosa, controladora. Incapaz de fluidez.
Viu os trilhos do alto e não pensou em nada ou pensou em tantas coisas sem foco. Percebeu - e era tarde - que gostava do braço para trás, do vapor alcoólico que exalava, da testa franzida, do toque de suas bocas. Isso fez com que perdesse as referências - e os trilhos pareceram mais próximos. Melancólica, atinou para o tempo, a primavera já rondava a porta e tudo ficaria bem.

“Que setembro venha com bons ventos, que me traga sorte e amor, que não me deixe sofrer, por favor."
C.F.A


sábado, 13 de agosto de 2011

Em Setembro

Já não vou ser a mesma que espreme essas partes no papel marcado. Tudo pode não ser nada mas espero ter um dia enérgico, com esperança, ao menos. Sinto que ela está se desprendendo em blocos como quem desintegra um ecossistema inteiro. Onde vai levar esse desacerto, descompasso, desperdício. ''São apenas minhas esperanças retirantes'' disse o forte melancólico amigo, transbordado da bile negra que nos engoliu de nascença. As minhas se retiram num clarão frio azul. Talvez ele perceba, por saber demais de mim, de minhas pregas escuras, que o grande ''x'' é a coragem de deixar ir. Essa consciência foi socada outro dia. Já estava aqui mas a alegria covarde (alegria? Essa encenação que a gente acaba fazendo pra gente. Essa coisa que é bem triste, olhar no espelho patético, monólogo sem plateia). Preciso deixar escorrer, sabe. Já não posso cravar os dentes nisso, o mesmo enredo torto, batido, insuficiente. Nunca vingou, não vai. A verdade é que a única exigência que fiz é que fosse límpido. Verdade o estilo, a ideologia, o problema, os trejeitos, a irmã, a mão entrando da boca, o olho que salta, a tinta vibrante, essa espontaneidade livre. Livre,só. Sem precisar desses truques malditos que tanto fodem as coisas. Toda essa tinta tem cheiro de consolação, como se a resposta já fosse conhecida, já tivesse sambando em tudo que já sei e não sei que sei. E aqui esbarro, correndo em círculos, no pontapé inicial dessa invasão após meses. Será que é mesmo coragem a falta. Ou fortaleza, ou maturidade ou sanidade para deixar escorrer. Aquela frase que eu nem sabia habitar tanto em mim. Hilário. Às vezes queria que a minha percepção fosse uma coisa assim...paranormal. O medo é de que esse silêncio esteja dizendo tudo isso que preciso. E eu, sem ouvir, sem saber ou querendo ignorar solenemente. A cada atrito de sapato no chão, essa possibilidade, enfim.

domingo, 17 de abril de 2011

Cidade luz

Ali o tempo é diferente,andamos no meio da rua,homens,cachorros. A casa fica no zênite,esquina com Floripes. O lugar é doce. Interesse instantâneo. Aprenda a largar os fios do destino. Eles já estão tão embolados nos meus dedos... A noite entrou valente,tomando tudo com formas que não previ, completou com luz e sombra o Azul. Flores brancas,amarelas,luzes de natal fora de época,feliz homenagem. Barba de lado a lado,olhos de falsa ressaca,inacreditável. Meio amendoim para uma longa tese interdisciplinar. Acho graça. Óculos,vírgulas,melodia. Os fios estão ocupados? Dormi tão rápido,resistindo na boca da noite um gosto de sol*. O vivido embolou na (sub)consciência, coração tão descuidado. Nada será como antes amanhã*.



*Milton Nascimento/Ronaldo Bastos

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Motriz

O barulho do não choque
A descoberta sem alarde
Volúpia não consumada
Um coração falhou,entupido de reincidência
Veias vazadas teclaram o típico alijado
O barco segue,sem forma
O que quero não mudou - e vale a pena.
Tem janelas pintadas e asa ritmada
Se esconde em algum lugar que não estou
Faz de aparecer,não vem
A entranha,
músculo pungente,
cais fiel itinerante,
espera a novidade.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Suposta resposta Dele

Prezado R.R,
Você nada me deve, que dirá formalidades. Sou um cara tranquilo, não dou importância para pompas. Vejo, não de hoje, que ocupa sua cabeça com inúmeras e diversas coisas. Nem sempre isso é útil ou saudável, mas arrisco-me a dizer que esse é você ... é o que sustenta o edifício inteiro. Ah, foi surpreendido? Meu caro R.! Pode ser mesmo que não creia em mim mas tenho fé em você.
Vejamos ...descuido,engano. Será? Você me pergunta coisas que, simplesmente, não me cabe responder! Não se zangue, R. Tenho aqui alguma coisa para você: fatalmente a lonjura não é um catalizador ou ponto positivo mas sinta: ela tem um gosto, saboreie. Diga-me (sem pressa, reflita!),então, é ela? Habita em você uma onda sinestésica? Ou talvez uma calmaria inebriante? Estas são perguntas que você deve responder e, a partir das respostas, pensar a sua própria sorte. É claro que esse é o meu conselho, assisto-o de perto, como a ela - a quem dedico crença recíproca. Não guardo mágoas de você, longe de mim. Prefiro o termo personalidade forte, bem resolvido, determinado.Disso você entende e caso não entenda(o que duvido) passará a entender em breve. Nada posso confirmar, não sou certo, desvio-me. Parece-me que seu coração diz muito, escute-o,use-o e vá. Asseguro que o levará para onde deve ir. Já estive longe de alguém e recorri ao camarada Tempo, ele nada fez por mim. Mas sabe? Ele é um bom amigo...fiz o que podia fazer: fé e pachorra. Acredito que foi o melhor resultado. Em todo caso, trocarei uma idéia com o Tempo. Agradeço os bons fluidos que enviou, meus anos são sempre bons, de um jeito ou de outro. Enquanto isso, tente descobri-la,escreva para ela,fale com ela...adianto que ela é só sensibilidade, não é fácil ganhá-la mas vejo que já tem algum caminho andado.
No mais, tenha um bom ano, faça as coisas por você e pelo seu futuro,acredite nele. Tenha peciência e veja suas reais possibilidades. Gosto da sua sinceridade e da sua coragem, são virtudes raras e preciosas. Parece-me que estamos um tanto mais próximos, quem sabe. Boa sorte.
Um abraço,
Destino

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

No espelho

É a coisa que eu mais quero. Não consigo alcançar um desde. Algo é fato: inesperado. Jogo pra Iemanjá um cristal branco de desejos, ouso, eu sei, na esperança cúmplice que ela acolha essa falta. O tempo aqui está sintonizado no ambiente da minha alma, é quente, um calor úmido, mas venta um vento impertinente, que faz o balanço necessário. Quero a rima mais clara, sorte.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Maré

Nada me tranquiliza. Às vezes parece que o mundo, meu mundo, está em ruína. Sempre achei que a fase conflitosa passaria. É uma necessidade de escavar uma razão para ser bélico! Cansada, desolada. Nesses dias, uma maré de otimismo tem tomado meus pensamentos mas, na sequência, a opressão negra do desânimo, consegue dominar. Nessas horas, desejo ser exatamento o que querem que eu seja,pouparia. Tudo oscila.