Ela esperou todos os dias, os feios, os frios, os de primavera. Resistiu resignadamente àquela desilusão cortante, até que um dia, quando sentar na varanda não era nada além de um hábito, os galopes foram ouvidos a quilômetros.
O rebento que trazia junto a si rodou como roda o mundo, as cirandas de fatos, que um dia são, no outro não mais.
Ela demorou tanto para esboçar alguma reação, que deu medo da estória não acabar bem.
Não como nos contos de fadas, com todo o abatimento da sua religiosa espera, desceu as escadas de madeira, seus passos eram céticos. Olhou aquele céu nublado e não conseguiu selecionar nenhuma daquelas palavras que pairavam sobre sua cabeça.
A essa altura, o homem, muito mudado, apresentava uma densa barba negra, já estava aos pés da escada. Abraçou-o apesar do suor, apesar do abandono, apesar dos sonhos renunciados, apesar de, amou.
Primeiro choveu muito, depois os tempos que se seguiram foram mais fulgurosos, em todas as mesas pão, frutas em todo quintal, desejos semeando o real.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
sábado, 6 de setembro de 2008
Insight
Fito com olhos entreabertos o formato de X das curvas magnéticas, por elas passam, antes que eu pisque, pequenas rodas brincalhonas. Aquela loja não era o meu destino, mas aquele X, aquele cruzamento...
Desço dessa solidão, procuro encarar as coisas, nunca optei pelo esquecimento e não vai ser agora. Essas correntes não existem. Lembro-me da paciência com que montava o brinquedo, sem pressa, pra não faltar.
- Não faz isso
-Eu faço o melhor que sou capaz
- Desculpa essa insegurança
Como um clique, volto à tona.
Peraí, pára! Saio sem muitos reflexos da loja, desço as ruas, sempre reto, até o plano, chego ao quatro.
-Não posso te deixar escapar, não vai. Fica, não foge, você não pode ser melhor que aqui. Eu quis ter os pés nos chão, abri mão mas agora eu entendi. Eu vivia trancada. Eu preciso é lembrar de mim antes de te ter. Eu sou quem vai te libertar. Prefiro te ver pelas manhãs, juntinho, sem caber, até.
- Você é louca, Morena.
- Pára de esconder esse coração
E qualquer cômodo dali seria quente demais, cheio demais.
Desço dessa solidão, procuro encarar as coisas, nunca optei pelo esquecimento e não vai ser agora. Essas correntes não existem. Lembro-me da paciência com que montava o brinquedo, sem pressa, pra não faltar.
- Não faz isso
-Eu faço o melhor que sou capaz
- Desculpa essa insegurança
Como um clique, volto à tona.
Peraí, pára! Saio sem muitos reflexos da loja, desço as ruas, sempre reto, até o plano, chego ao quatro.
-Não posso te deixar escapar, não vai. Fica, não foge, você não pode ser melhor que aqui. Eu quis ter os pés nos chão, abri mão mas agora eu entendi. Eu vivia trancada. Eu preciso é lembrar de mim antes de te ter. Eu sou quem vai te libertar. Prefiro te ver pelas manhãs, juntinho, sem caber, até.
- Você é louca, Morena.
- Pára de esconder esse coração
E qualquer cômodo dali seria quente demais, cheio demais.