Admiro a coragem dele de comer cebola crua. Observo há alguns minutos mas sinto observá-lo desde menina, seu jeito de mastigar, o caldinho que escorre no canto da boca...Me pede para comer, desarranjado.
- A comida está ruim?
Faço que não com a cabeça, claro que não, eu queria abraçá-lo enquanto ele lava os pratos. Olho para a mesa onde comemos, ela me dá cada idéia...se ele ouvisse...
Inclino-me um pouco para conseguir enxergar seu corpo curvado, esse calor faz cada pensamento tomar conta da minha cabeça...
Já faz muito tempo que me escondo nos lençóis, e este homem me aparece, esse fantasma.
Decido-me. Levanto e digo de uma maneira involuntariamente gritada tudo que devia ter dito naquela tarde cinza que desde então me acompanha.
Digo que dele eu não tiraria nada, mas agora os dias insistem na claridade e as tardes, as tardes são quentes e tão bonitas, parecem zombar da minha entrega.
Nada, dele eu não tiraria nada, só esse vazio da casa.
Um comentário:
cheio de cantos vazios
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