O balanço é o lugar onde eu, desde criança, me entrego. Enquanto estou indo e vindo sinto medo, medo da corrente arrebentar, medo de cair pra frente, um medo carregado de inocência que nenhum dos olhos percebem, só os verdes atentos. Sentada ali eu me encontro e me acalmo, sei quem sou, mas de certa forma perco minha identidade domingo a fora. Lembro da paciência de minha madrinha que me levava àquele parquinho perto do mar, onde eu balançava horas a fio. Vejo o meu cabelo e consigo lembrar de uma cena exatamente igual a essa só que anos antes...eu tenho a mesma sensação de olhar tudo e não ver nada, é como se eu, ao balançar, não estivesse realmente ali. Ultimamente, tenho me deparado muito comigo mesma. Eu estou de frente pra mim, me vejo e acho engraçado ter sido assim, penso se ainda vou me ver como estou agora ou se existe alguma estabilidade em ser assim. Não rio da retórica que construí mas me divirto com ela.
Solto-me sobre o banco e tento recaptular meu último mês, os olhos verdes tentam mostrar-me o lado bom de mim. Decido (pela centésima vez) não viver nessa eterna expectativa que sempre acaba me decepcionando.
Sorrio então, enganando a mim mesma por saber que esse é o defeito que me sustenta.